A escritora que não come miojo

Carolina Bataier
3 min readAug 2, 2023

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Você é a escritora Carolina Bataier? Então escreve: comi um miojo.

Impossível, nem buscando longe na memória eu lembro da última vez. Lasanha congelada seria mais fácil e, ainda assim, preciso de um certo esforço. Eu, adulta, me tornei uma pessoa ordinária. Como frutas, faço caminhadas, meus exames estão sempre em dia. Somente uma sequência de fatos rebeldes ao meu controle me levaria a estar diante de um prato de miojo.

Investigo possibiliades.

Teve um dia, sai para trabalhar e deixei uma amiga trancada na minha casa. Ela, quando acordou, me mandou um SMS. Tô na sua casa, lembra? E vc trancou a porta. SMS, calcula.

Eu, na redação do jornal, com a pauta do dia rascunhada num caderninho brochura, sem condições de libertar a minha prisioneira. Come qualquer coisa, fica à vontade, vou mandar o chaveiro.

Talvez, eu, no lugar dela. Casa da amiga, sozinha, por força do destino — e da distração alheia. Era um apartamento antigo, janelas grandes, ventinho bom que balançava as cortinas. Tinha muitos livros, um sofá macio, uma poltrona. Fica à vontade, eu disse.

Fica à vontade, alguém me diria. Só não tem nada na geladeira, desculpa. Mas tem miojo. E café. Eu penso: bom. E corro o olhar pelas lombadas dos livros na estante.

Tudo bem, sem pressa, sem pressa alguma. Almoçarei por aqui, fico até o jantar, te espero. Passo um café, escolho um livro, leio a primeira frase, sento-me no chão, as cortinas balançando.

Impossível sair agora, não é culpa minha. Se o miojo é o preço a pagar por algumas horas sem absolutamente nada para fazer, eu escolho o de tomate turma da mônica. Só tem galinha?

Serve.

*

Eu acho engraçado como todo ano, no dia do escritor, alguém me manda esse meme. Sempre penso: legal, mas eu nunca escreveria isso. Miojo e carnaval de sabores? Jamais, nem na minha mais estranha personagem. E sempre acho bonito as pessoas lembrando de mim nessa data. Na última newsletter que mandei — prometi que seria quinzenal e em seguida desapareci por meses, perdoem — a escritora Marina Grandolpho falava sobre autorizar-se escritora. Para mim, assim como para ela, aconteceu aos poucos. Agora, até me acostumei.

É hora, então, de tirar do armário — ou da gaveta — um novo título. Sou Carolina Bataier, a poeta.

Que, diante do prato de miojo, diria:

então é disso que vive um escritor?

*

Mas vi por aí que, comparando o quilo do miojo com o do macarrão, a história de que o nissin é baratim nem é tão verdadeira. Falácias. De todo modo, se você gosta do meu trabalho e quer me ajudar a comprar o miojo de cada dia, deixo aqui a sugestão-convite-pedido-de-ajuda.

Meu novo livro está na pré-venda e eu garanto que é um trabalho bom o suficiente para eu, de supetão, nomear-me publicamente poeta. Sim, mulheres, tenhamos coragem para sermos o que somos. O livro fala disso, também. De coragem, rebeldia e deboche com quem não nos quer poderosas. Além dos poemas feitos no capricho, tem um trabalho de edição lindo e cuidadoso da Editora Patuá.

Para comprar o meu novo livro, Pia cheia, clique aqui.

O período de pré-venda vai até dia 08 de agosto, logo ali. Então, se o cartão por aí ainda não virou, marca na agenda. Bota um lembrete para, no quinto dia útil, comprar o livro da Carol que ela falou que vale a pena.

Confia.

E,

desde já,

grata.

*

Até a próxima. Juro que não vai demorar tanto.

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