A primeira vez longe da cria

Carolina Bataier
2 min readJan 10, 2025

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Cecília,

eu quero que você saiba que no dia em que estive sozinha, na nossa casa, sem você, eu cantei e dancei. Chorei na despedida e sinto, agora, meus peitos doerem. É verdade, saudade dói no peito, mas é de um jeito diferente quando a gente é mãe e ainda amamenta. Olha só que engraçado: eu procurava, nas caixas da mudança, uma parte da bombinha de extração de leite. Ainda não encontrei, mas achei este caderno e pensei: que bom momento para retomar a escrita. Doem meus peitos e eu sinto saudades dos beijinhos que te dou toda noite antes de dormir. Sinto saudades das nossas brincadeiras, você tão bebê ainda e já imita meu jeito de fingir que os dedos das mãos são perninhas que passeiam pelos seus braços — você faz isso nos meus, eu rio, você ri. Sinto falta do cheirinho do seu cabelo e de fazer carinho no seu pé. Mas sinto uma grande alegria em ter, por uns dias, meu tempo todinho para mim.

E isto eu quero que você saiba sempre: o amor é uma coisa imensa, onde cabe alegria, presença, ausência, onde a gente pode sorrir sabendo do outro logo ali, bem cuidada, amada, vivendo, sorrindo, aprendendo, crescendo, enquanto daqui, eu também cresço para caber meu coração, cada vez maior, dentro de mim.

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Esse texto estava em um caderno. Foi escrito à mão, sentada no chão, ainda no puerpério, esse momento de medo, descobertas e reencontro com a gente mesma. Tenho escrito coisas para minha filha e, algumas delas, gosto de publicar, quando sinto que podem servir de abraço para outras mães.

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Carolina Bataier
Carolina Bataier

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