Eu não quero antecipar a saudade

Carolina Bataier
3 min readSep 22

Se você nunca passou dias com um bebê recém nascido, talvez não saiba, mas eles não dormem. Essa foi a grande surpresa da maternidade. A primeira delas.

Depois de nove longas horas de trabalho de parto e uma cesárea solicitada, eu pensei: agora vou descandar. Se você é mãe — ou pai — deve estar rindo da minha ingenuidade. Naquela cama de hospital, com um curativo na barriga e um ser humano de 50 centímetros no bercinho ao lado, eu entraria na missão mais exaustiva da minha vida. Sem descansar.

Bebês nascem sem saber dormir. É preciso ensinar o que é noite e o que é dia. E, até eles aprenderem, os cuidadores terão longas madrugadas em claro.

Os recém nascidos precisam de alimentação de três em três horas, mais ou menos. Então, mesmo que o seu bebê durma durante a noite, ele vai acordar algumas vezes.

Quando um bebê nasce, nós somos arremessadas em uma rotina de dias longos. Neles, acontece muita coisa. Como a mudança hormonal intensa que me fez chorar debaixo do chuveiro, lendo a mensagem de um amigo e conversando com meu avô no telefone. Peitos doloridos, inchados, leite escorrendo e manchando as camisetas. Medo de dar banho, de trocar de roupa, de derrubar o bebê, de o cordão umbilical não cair nunca, medo do cordão cair, medo de infeccionar. E o bebê chora. Faz cocô várias vezes ao dia. E não dorme.

A amamentação, nos primeiros meses, é lenta. Demora. E, para fazer o tempo passar mais rápido, eu, de vez em quando, passeava pelo Instagram. Ali, na rede onde todas as mães são felizes, eu li o conselho: “antecipe a saudade”. No texto, uma influenciadora falava sobre como tudo passa muito rápido.

Não sei se passa tão rápido assim, pensei. E parei de seguir aquela cretina. Nem tudo na vida precisa se tornar uma grande lição. Algumas coisas são apenas ordinárias. Outras, dolorosas.

Minha filha agora dorme durante a noite. Esse dia chegou. E, até hoje, eu juro, não teve sequer um dia que eu tenha sentido saudades daqueles três primeiros meses de caos e aflição.

As coisas estão melhores. Os dias são leves e gostosos, mas antecipar a saudade ainda me parece mais uma bobeira daquela rede social cheia de conselhos inúteis. Alguns dias, a gente vai fazer o que dá. Noutros, seremos muito feliz e, depois, talvez, iremos esquecer tudo.

Quando a saudade bater, que venha, mas eu prefiro não pensar nela agora. Quero reclamar dos maus momentos, sim, torcendo para que eles passem logo. E viver as alegrias como quem não pensa em futuro algum.

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