Me avisa quando chegar em casa
Eu, no banquinho de madeira na calçada, lendo um livro. A mulher para na minha frente:
- Posso te perguntar uma coisa?
- Pode.
Ela riu. Eu ri.
- Essa maquiagem tá boa?
Tira os óculos de grau, fecha os olhos.
- Tá. Um pouquinho borrada, só.
Esfrego a ponta do indicador na manchinha preta da pálpebra.
- Pronto.
- Eu não sei me maquiar.
- Nem eu. Quando preciso, passo só rímel.
- Eu nem isso. Não tô muito perua?
- Não.
- Brigada.
- De nada. Boa tarde! — Eu gritei, porque ela já seguiu arrastando o vestido florido.
Ontem, uma moça comentou numa foto: “Carol, eu te acho inspiradora”. Mandei mensagem. Queria saber quem era ela, queria entender o elogio. Vi que já tínhamos conversado antes. Bobagens, dicas de Paraty. Vamos, se tudo der certo, tomar um café quando ela vier visitar esta cidadezinha entre mata e mar.
Fim de festa, eu bêbada. A namorada do meu ex-namorado me ajudou a encontrar meu quarto. Quando terminaram o relacionamento, ela me escreveu. Se morássemos perto, seríamos amigas.
A amiga de outro ex é minha amiga até hoje. Dele, não tenho notícias.
Andando em meio a multidões, homens esquecem de olhar para trás. As mulheres dão as mãos.
Um dia, uma amiga recolhia florezinhas do chão, depois de uma apresentação teatral. Falou: repara. Os homens pisavam em cima. As mulheres caminhavam com cuidado para não amassar as pétalas.
Aquela história de competição feminina, mentiram pra’gente o tempo todo.