Me avisa quando chegar em casa

Carolina Bataier
2 min readMar 12, 2020

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Eu, no banquinho de madeira na calçada, lendo um livro. A mulher para na minha frente:

- Posso te perguntar uma coisa?

- Pode.

Ela riu. Eu ri.

- Essa maquiagem tá boa?

Tira os óculos de grau, fecha os olhos.

- Tá. Um pouquinho borrada, só.

Esfrego a ponta do indicador na manchinha preta da pálpebra.

- Pronto.

- Eu não sei me maquiar.

- Nem eu. Quando preciso, passo só rímel.

- Eu nem isso. Não tô muito perua?

- Não.

- Brigada.

- De nada. Boa tarde! — Eu gritei, porque ela já seguiu arrastando o vestido florido.

Ontem, uma moça comentou numa foto: “Carol, eu te acho inspiradora”. Mandei mensagem. Queria saber quem era ela, queria entender o elogio. Vi que já tínhamos conversado antes. Bobagens, dicas de Paraty. Vamos, se tudo der certo, tomar um café quando ela vier visitar esta cidadezinha entre mata e mar.

Fim de festa, eu bêbada. A namorada do meu ex-namorado me ajudou a encontrar meu quarto. Quando terminaram o relacionamento, ela me escreveu. Se morássemos perto, seríamos amigas.

A amiga de outro ex é minha amiga até hoje. Dele, não tenho notícias.

Andando em meio a multidões, homens esquecem de olhar para trás. As mulheres dão as mãos.

Um dia, uma amiga recolhia florezinhas do chão, depois de uma apresentação teatral. Falou: repara. Os homens pisavam em cima. As mulheres caminhavam com cuidado para não amassar as pétalas.

Aquela história de competição feminina, mentiram pra’gente o tempo todo.

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Carolina Bataier
Carolina Bataier

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