Nove desejos
Mudo muito os cabelos.
Amarro coisas aos tornozelos. Agora são quatro: um cordão com concha do mar e três fitas do Senhor do Bonfim. Dos nove pedidos enlaçados ao meu corpo, só lembro três. Fé ou desespero, não sei qual a diferença. Enquanto não chegam, os desejos ou o futuro, as fitas amarradas dizem que eu jamais ficaria totalmente elegante num scarpin e vestido de seda. Duvido que usaria, aliás, outra vez. É coisa dos pós 30, a gente define nosso estilo e sabe onde não vai pisar tão cedo. Se bem que hoje em dia a gente nunca sabe se é estilo ou se é só o fim dos tempos. Por via das dúvidas, parei de rezar. Mais agradeço que peço, quando peço, esqueço. Tentei fazer pedidos menos vagos. Tentei ser certeira, como barco sem vela, só balança, nunca vai. Da fé, persiste o sinal da cruz em frente aos velórios, porque respeito muito os fins. Começo as coisas com rima, termino sem rumo e ainda guardo receio de quebrar em versos.