O que aprendi com as plantas mortas
O nome dessa planta é echeverria (pronuncia-se e-quê-vé-ria, aprendi hoje).
Outro dia, ganhei uma e matei por excesso d’água. Não durou um mês. Hoje, na oficina de terrários — para quem não sabe, aqueles arranjos com cactos e suculentas — a professora ensinou a cuidar de uma dessas.
As folhas de baixo vão morrendo, a minha começou assim. Eu deixei lá para ver até onde ia. Morreu. A professora disse que precisa ir tirando de vez em quando, jogar fora as folhas mortas. Nascem, também, uns brotinhos, mini-echeverrias, e esses você precisa cortar rente ao caule e colocar num vaso novo.
Simples.
Como tudo na vida, é só cuidar da manutenção, coisa da qual sempre fugi. Passei anos perseguindo um estilo de vida que necessitasse do mínimo de manutenção possível, acreditando ser isso a liberdade. Ingênua, eu, porque tudo na vida precisa de manutenção, do chuveiro às amizades.
Até nossos dentes precisam de manutenção. Até nossos cabelos. Tudo.
De vez em quando a gente precisa parar, tirar as folhas mortas, mudar a terra, trocar o vaso, desculpa usar planta para fazer metáfora com a vida, mas eu fiquei muito surpresa hoje, diante do óbvio.
Para ter uma echeverria bonita, é só cuidar. Do modo como ela necessita, porque tem isso, também.
Cada planta, uma necessidade.
Querer ter planta é assim, ou então é preciso aceitar o apartamento vazio de verde. Varrendo a casa — outra manutenção — refleti: se não cuidamos, tem alguém cuidando por nós. Ou tem algo morrendo.
Da liberdade, ainda sei muito pouco. Mas viver sem cuidar não é ser livre, entendi. É só descompromisso.
Se parece autoajuda, não é essa a intenção. É só que hoje aprendi como manter uma echeverria, mas a minha morreu faz tempo e eu desisti, faz tempo, de ter outra (mas talvez mude de ideia).
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