O que lembro, tenho
meu celular, depois de 5 anos, parou de funcionar. antes, deu pequenos sustos, sempre remediáveis. agora, parece, foi de vez. tinha nele um tanto de fotos, de gente e lugares. festas de aniversário, teatro, indonésia, minas gerais, rio de janeiro, carnavais, pracinha de duartina, lançamento de livro, amor.
eu, apesar de conectada, não sou das tecnologias. tenho dificuldade até pra ligar televisão quando tem o aparelhinho da net, imagine lidar com backup de celular. backup é uma palavra que me incomoda. eu nunca faço, de nada. da nuvem eu gosto, mas não uso. muito bonito ter uma tecnologia chamada nuvem, mas ela também me fugiu do uso. pras coisas importantes, gosto de papel, caneta, agenda. então, algumas fotos ficaram salvas nas redes, mas outras tantas se foram.
vocês vejam como a tecnologia é uma coisa doida, mesmo. todo dia a gente entra na rede social e vem logo o convite para ver o que fazíamos no ano passado, retrasado, até 10 anos atrás, se quiser. eu quase nunca olho. tenho um pouco de medo de acostumar com isso e ficar pra sempre presa no passado. todo dia lembrando quem eu era ontem, quero não, obrigada.
tinha mais de 7 mil fotos no meu celular. eu quase cheguei a ficar triste com a perda mas, de repente, senti um alívio. a gente se apega nesse tanto de foto, mas não imprime. fica lá, esperando não sei o que, talvez um #tbt. as vezes, também, a gente perde uma música inteira de um show olhando a tela do celular pra conseguir o melhor ângulo enquanto poderia estar dançando com quem tá ali do nosso lado. os nãoseiquantos gigas de memória dão essa ilusão na gente, de que tudo vai ficar guardado pra rememorar quando quiser.
quase fiquei triste pela perda, mas não tem tristeza alguma, porque o guimarães rosa foi quem escreveu uma das coisas mais verdadeiras do mundo: “o que lembro, tenho”. tem memória eletrônica nenhuma que substitui a nossa dos momentos vividos, não.
