Parecer mais jovem não é um elogio — ou não deveria ser
Quando fiz 37 anos, algumas pessoas disseram: “com carinha de 30”. Também aconteceu aos 30 e a tentativa de elogio era “30 com carinha de 20”.
Eu sei das boas intenções por trás dessas frases prontas. No entanto, abro meu sorriso já marcado por linhas de expressão e recuso gentilmente o falso elogio. Eu tenho 37 anos com corpo de 37, sabedoria, cicatrizes e memórias de 37.
Já que etarismo é a pauta da vez, por que não derrubamos as frases que só reforçam a valorização da juventude?
Se nós somos a geração dos debates, problematizações e rupturas, vamos então quebrar as caixinhas todas. Como deve ser uma mulher de 30 e tantos anos? Qual cara ela deve ter? Quais experiências de vida deve acumular?
E por que parecer mais jovem deve ser um elogio?
ou
Por que uma mulher jovial não pode ter 30, 40, 50 anos?
Eu conheço mulheres que, aos 37, são mães de três, quatro filhos. Outras estão gestando e muitas escolheram não ser mães. Há as que congelaram óvulos. As que estão viajando o mundo com uma mochila nas costas. Abrindo empresa. Pedindo demissão. Ostentando as rugas, aplicando botox, pintando os cabelos de azul, usando aparelho para alinhar os dentes. Tem mulher de 30 e tantos anos aprendendo a dançar balé, dança do ventre, funk, jogar capoeira. Chegando em casa as 7h depois da noitada, dormindo às 21h depois de um chá. Publicando o primeiro livro, ganhando prêmios literários depois de cinco obras publicadas. Adotando gatos, cuidando dos pais, comprando pacote de viagem para as próximas férias. Dividindo casa com amigo, morando sozinha pela primeira vez, acertando os últimos detalhes do casamento, divorciando. Tem mulher de 60 anos começando a escrever poemas, bebendo vinho com as amigas, aprendendo a tocar violão, ganhando Oscar.
Um rosto bem cuidado — e haja privilégio para garantir sono em dia, boa alimentação, skin care, pouco estresse — é bom, mas bonito mesmo é a experiência. Bom é ter histórias para contar.
Idades não definem pessoas e entender isso é libertador. A juventude é bonita, mas ela não deve ser mais incrível do que as experiências de uma vida toda.
Os debates dos últimos dias revelaram que nós — a sociedade brasileira — supervalorizamos a juventude. E isso suga uma energia imensa, principalmente das mulheres — as grandes vítimas da cobrança estética. Suga dinheiro, também. E tempo. Então, bora juntes nessa missão de compreender que ser ou parecer jovem não é um elogio. A juventude é só uma fase da vida — e que, como tudo, passa.
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*Na foto, a atriz Michelle Yeoh, vencedora do Oscar de melhor atriz em 2023. Em seu discurso, ela deu o recado: “mulheres, não deixem ninguém dizer que a sua melhor fase já passou”.