Uma vivência no sertão grande
Cinco meninos disputavam a bicicleta azul. No rosto do mais alto pousavam, sobre o narizinho arrebitado, os óculos. De armação preta, mesma cor dos olhinhos boiando no fundo do vidro grosso. Não tinha mais que dez anos e fazia, junto dos outros, algazarra de levantar poeira do chão, motivo para eu me afastar. Acreditava, ainda, ser possível evitar a terra grudando nas roupas.
Enganos.
Batendo as mãos na saia rosada, caminhei para junto dos meus. Outro engano: não haveria, dali em diante, os meus. Eu estaria ora sozinha, ora com todos, vez em quando as duas coisas. Do lado de dentro do ginásio de festas da vila de Sagarana, noroeste de Minas Gerais, ouviam o professor alemão apresentar seu estudo acerca da literatura brasileira. O microfone projetava a voz até o lado de fora. Willi Bolle, estudioso da obra de Guimarães Rosa, também estaria conosco na caminhada. Curiosa, fugi da palestra e fui arder os braços ao sol enquanto esticava o olhar até onde podia. Homens passando de bicicleta, ruas de terra, carroças. Os dias de julho no sertão mineiro são de céu azul, poucas nuvens, sol quente.
Antes de completar a meia volta e adentrar o salão, meu olhar cruzou com o do menino. Segundos. Ele comemorava a vitória com as mãos sobre o guidão enferrujado e olhou para mim numa gargalhada de dentinhos abertos. Miguilim, pensei. Dei as costas e voltei ao meu posto, num canto do chão cimentado dentro do galpão onde, na noite anterior, comi feijão tropeiro por 4 reais o prato farto. Na noite da nossa chegada havia ali uma festa junina, primeira oportunidade de olharmos uns aos outros com curiosidade. Aquelas pessoas me acompanhariam numa caminhada sertão mineiro adentro pelos próximos sete dias.
Assentei-me num canto e aguardei até que alguém, mais uma vez, trocasse comigo um olhar, desta vez entregando o cajado de bambu, num convite à minha apresentação. Era o ritual estabelecido para que conhecêssemos brevemente uns aos outros. Recebíamos o cajado, caminhávamos ao centro da roda e falávamos sobre nós. Poetas, advogados, atrizes, médicos, estudantes, funcionários públicos, professoras, contadores de estórias, pesquisadoras, curiosos e sonhadores. De motivações diversas: mística, pessoal, profissional, política; cada um trazendo na mochila um par de tênis, muitas meias, band aid, gaze, gel de arnica e repelente de insetos. No peito, alguma ansiedade. Eu estava ali com uma proposta: escrever sobre aquela experiência. Inspirada pela criaturinha que brincava do lado de fora do ginásio, apresentei-me: sou Carol, venho de Bauru, interior de São Paulo. Estou aqui para tomar emprestados os óculos de Miguilim e, quem sabe, enxergar mais longe.
Miguilim é personagem principal do conto Campo Geral, de João Guimarães Rosa, publicado em 1956. O menino morava com sua mãe, seu pai e seus irmãos, longe, longe daqui, muito depois da Vereda-do-Frango-d’Água e de outras veredas sem nome ou pouco conhecidas, em ponto remoto, no Mutúm, como descreve Guimarães Rosa em sua obra.
Anos antes, foi Miguilim quem segurou minha mão e me levou para dentro universo do autor. O encantamento pela obra de Guimarães Rosa, somado à ânsia por conhecer o Brasil, colocava-me ali, no noroeste de Minas Gerais, terra onde eu pisava pela primeira vez nestes meus 31 anos.
Em 9 de julho de 2017, pela primeira vez no ano eu acordava antes das 6 da manhã. Eram ainda 4 horas quando a voz doce invadiu minha barraca: “acorda, Maria Bonita, acorda pra tomar café…”. Alguém acompanhava no violão e outro soprava flauta enquanto eu sofria para sair de dentro do saco de dormir. A noite tinha sido dura. Deveria ter trazido um colchonete, mas só percebi isso depois de montar minha barraca sobre o chão de concreto do estábulo, nosso abrigo nas duas primeiras noites. Improvisei travesseiro com uma blusa de lã e dormi um sono a prestações. Do lado de fora, a noite sertaneja se apresentava. Era silenciosa e fria.
Duas horas depois do despertar definitivo, vi o ginásio de Sagarana ficar pequenininho no horizonte, enquanto seguíamos pela estrada de terra. Na vila, só a rua principal é asfaltada. Adiante, o cheiro de mato invadia minhas narinas ensinando que o amanhecer no sertão tem aroma verde e céu rosado.
Trinta e três quilômetros. Para quem nunca caminhou longas distâncias, chega o momento de se pensar que o caminho não tem fim. Há tempo para cansar, descansar e cansar de novo. Tempo para contar histórias e ouvir outras tantas. Para seguir sem dizer palavra, considerar o cajado como um peso morto e depois reconsiderar. Tudo seria mais difícil sem ele. Há minutos suficientes para reinventar modos de carregá-lo, transformando-no em instrumento para alongar os ombros: basta atravessá-lo por trás da nuca em posição horizontal. Há tempo, também, para aprender que isso não se faz, porque existe o risco de tropeçar e, com as duas mãos penduradas em cada lado do pau tal qual Jesus na cruz, cair de cara no chão e quebrar os dentes. Esse foi um dos aprendizados práticos, que se uniu a outros tantos. Não caí e meus dentes seguem inteiros. Ouvir foi a minha escolha.
O ouvir
É necessário sair da ilha para ver a ilha, escreveu José Saramago. Foi preciso ouvir sem pensar em respostas para perceber que eu nunca havia treinado a escuta. Deixar a correnteza alheia conduzir meu pensamento para além do meu mar de léxico tornou-se um exercício.
Depois da euforia dos primeiros quilômetros, a responsabilidade sussurrou em meu ouvido: e então? Lembrei do motivo de estar ali: como integrante da equipe selecionada por meio do edital de vivências em comunicação d’O Caminho do Sertão, tinha a missão de escrever um relato. Os assuntos lançavam-se à minha frente. A cada quilômetro, um aprendizado sobre fauna, flora e gente. Com o mover dos passos, o que era instrumento — o ouvir — virou o objeto a ser explorado.
Entendi que eu não precisava, naquela caminhada, praticar a escuta direcionada, que faz perguntas e conduz o narrador a um tema pré-determinado. Queria prestar atenção ao que poderia aprender de novo em frases e gestos. Não é simples, porque uma parte desse exercício consiste em aquietar a mente para que ela respeite a complexidade alheia. Se a fala do outro termina pela metade, o conceito de metade é meu. Para o narrador, meus ouvidos receberam o exato merecido.
No ritmo dos primeiros passos, vozes se encontraram. Em silêncio, ouvi histórias, contadas para mim ou em grupos, duplas, trios. Relacionamentos, astrologia e sotaques são assuntos que agregam, geram debates e afinidades. Ótimos para os primeiros encontros. Criam risos, gargalhadas, burburinhos e discordâncias simpáticas.
Mas, quando o corpo cansa, a voz também se resguarda.
Depois de tantos quilômetros, muitas bocas calaram. Todo som era das pisadas sobre o chão, cajados rasgando a terra e suspiros. Vez em quando, um vento balançava galho, mas no sertão mesmo a natureza é silenciosa. A vereda, por exemplo, não se anuncia pelo som da água corrente mas pela visão dos buritis emparelhados.
Na primeira parada para descanso, debaixo de árvore grande e sombra de varanda da casa aberta a nos receber, as bocas voltaram a produzir som. Mandíbulas mastigando paçoca de carne.
No emaranhado de vozes refeitas, passando por gargantas saciadas, aprendi nomes, idades e modos diversos de enxergar a mesma coisa. Grande Sertão: Veredas, por exemplo, pode ser compreendido como uma extensa sessão de análise: Riobaldo, o jagunço, verbalizando seus demônios. Do subjetivo ao prático, colhi de tudo um pouco e aprendi que existem espécies de mandioca para quase todo tipo de terra. Na cidade de João Pinheiro, também no norte de Minas Gerais, ocorre entre maio e julho a Festa da Paçoca da Carne. Homens amassam a carne no pilão, mulheres temperam a farinha, misturam os ingredientes e visitantes fazem fila para comprar as porções frescas, vendidas a preço justo. Mandioquinha, batata baroa e cenoura amarela podem ser a mesma coisa, tudo questão de regionalismo; assim como carrapicho, dos que grudam em barra de calça, também recebe o nome de amoroso. A árvore do cerrado chamada lobeiro tem essa alcunha porque suas folhas servem de alimento para o lobo guará. A flor vermelha que se destaca na paisagem do cerrado recebe o nome de Caliandra e apelido de Ciganinha. Ciganinhas estão por toda parte: nos pastos, areia, barrancos e na capa da caderneta que levei pendurada ao pescoço, presa em colar feito de barbante.
A florzinha tem delicadeza cortante, conjunto de adjetivos dado a muitas surpresas que despontaram pelo caminho. Uma delas, a caderneta. Presente da equipe de organização para cada um de nós. Lembrete singelo, com capa de tecido feita à mão pelas bordadeiras da região. Chegou até os caminhantes com páginas em branco e agora leva dentro palavras em letra corrida e digitais carimbadas com terra e suor.
Disseram que Guimarães Rosa tinha a sua, n’onde anotava o que via em seus caminhares sertanejos. Os lugares estão aí para se confirmar.
O caminhar
Pela manhã do segundo dia, parei na beira da estrada, junto dos últimos caminhantes, para ajudar Pedro a fazer curativos nas mãos. Embalado pelo sono da madrugada, ele havia perdido a saída dos primeiros grupos. Os caminhantes juntavam-se de acordo com o ritmo do caminhar e a capacidade de organização. Os mais rápidos no desmonte da barraca e demais tarefas matinais — escovar os dentes, fazer curativos nos pés — saíam primeiro.
Eu cuidava para pisar no chão somente com calcanhar direito, evitando pressionar os dedos. Algumas pessoas caminham melhor de tênis. Outras, de sandálias e alguns pés nasceram para pisar sobre a terra sem qualquer proteção. O dedinho tem anatomia feita unicamente para o incômodo: conforme os pés incham dentro dos sapatos, ele vai ficando esmagado pelo vizinho. No fim do dia, está imerso numa bolha grande e pulsante.
Bolhas precisam ser drenadas. Se possível, com horas de antecedência, para que o curativo se acomode até o momento dos pés voltem à atividade. Caso contrário, vai arder nos primeiros passos. Drenar uma bolha é simples: basta passar por dentro dela uma linha, deixando o fio vazar de ponta a ponta a pele morta. Para o furo, usa-se agulha fina. Uma operação simples para quem tem prática em primeiros socorros ou corte e costura.
O fio é deixado ali, dentro da bolha, com as pontinhas escapando por cada saída. Sobre o procedimento, faz-se um curativo com algodão e gaze. Depois, com os pés descansados, é só seguir viagem. Há, no grupo, alguns guias especialistas nessa prática e, diante deles, se formam filas de feridos. Os curativos são feitos no fim do dia ou, como é pouco recomendado, no início das jornadas.
A parte mais difícil da operação é passar a linha dentro da cabecinha da agulha. Ainda assim, o corpo dá conta, porque somos equipados de habilidades que mal conhecemos até precisarmos delas; como enxergar um buraquinho que não chega a um milímetro e encaixar nele a ponta de uma linha.
O mesmo corpo que passa linha em agulha é aquele que desmonta uma barraca de três lugares, encaixa cobertor, toalha e pijama dentro da mochila e carrega tudo nas costas até a caçamba do caminhão, antes do primeiro gole de café, no escuro e com frio para, no fim do dia, com os pés doloridos e as costas pedindo cama, desfazer a mala e montar a barraca mais uma vez.
Pedro perdeu a perna esquerda num acidente em 2011 e caminhava auxiliado pela força dos membros superiores, apoiados em bengalas metálicas. As bolhas formavam-se nas palmas das mãos conforme ele unia forças para bater o próprio recorde: 55 quilômetros percorridos em dois dias na Caminhada dos Umbuzeiros, no sul da Bahia. Ao fim do segundo dia no sertão mineiro, ele já comemorava os 58 quilômetros vencidos até ali. Nas mãos, linhas cruzadas davam vazão à água das bolhas.
Em alguns momentos, Pedro abandonou o caminho e seguiu, de carona, até o ponto de pouso; como muitos de nós, que abandonamos quilômetros por dor ou cansaço a fim de retomar adiante. É preciso respeitar os limites, ele lembrou, embora quisesse seguir em caminhada. O melhor a se fazer é dar ordens à mente e descansar o corpo.
Aprendizados.
Ao fim de quase 180 quilômetros trilhados a pé, os hábitos se moldam de tal forma que usar um táxi para percorrer alguns quarteirões passa a parecer uma ideia ridícula. Uma bolha não descansada vira calo e transforma o ponto de fragilidade em área resistente.
A consciência
Houve momentos de hesitação: caminhar ou pedir arrego? Nessas horas, o olhar vagava longe. Foi num descuido desses que Argemiro puxou duas folha da árvore, cada qual do tamanho da minha mão aberta. Entregou-me uma: Quando ocê tá sem nada pra fazê, ocê pega uma fôia dessa e vai quebrano assim, ó, procê vê que gostoso. Entre os dedos magros, a folha fez tec tec. Copiei o gesto. Nossa risada espantou meu silêncio.
Andar ao lado de Argemiro é motivo de orgulho entre os caminhantes. Ele é o guia mais velho do grupo. Tem 64 anos, sendo 62 de sertão. Nos dois que sobram, viveu em Brasília e não gostou: “a gente tinha que levantá 5 da manhã, pegá um ônibus pro serviço, de tarde tinha que pegá ôtro ônibus lotado… ah, não!”. Caminhar ao lado dele é ouvir histórias do sertão e aprender sobre as plantas. Para a digestão, bom é o pau-terra, tanto a folha quanto a casca. A madeira do jacarandá serve para fazer cerca, assim como a da árvore do pequi, porque se um pequizeiro secá, a madêra que fica é pau pra toda obra. O posto de ouvinte de Argemiro tem seu preço: apertar o passo para acompanhar a caminhada ligeira das pernas compridas e acostumadas ao solo sertanejo. Quem consegue manter o ritmo é recompensado de muitas formas. Nas paradas de espera pelo restante do grupo, basta encontrar uma sombra para Argemiro tirar da sacolinha de pano que carrega pendurada no ombro um pedaço de goiabada. Puxa a faca da cintura, corta lascas do doce e divide entre os companheiros. Comida, água e faca: basta.
Uma mochila com excessos, no fim do dia, tem o peso de um cavalo. Quem não sai leve na partida, está leve na chegada. Livrar-se do peso inútil faz parte do caminho, que nos obriga a repensar o necessário. Banheiro, por exemplo. É de primordial importância na cidade e totalmente dispensável quando se tem mato, ar fresco, rio e um cantil com água limpa para esfregar o rosto e escovar os dentes pela manhã. Os itens em excesso vão sendo deixados nos carros de apoio. Ao fim do dia, é comum haver uma reunião ao redor dos veículos para o resgate de cajados, blusas de frio, bonés e câmeras fotográficas. Há quem comece a caminhada com a proposta de fazer muitas fotos, mochila cheia de equipamentos; e termine descalço, segurando um cajado e só. Foi meu caso. No fim, vale a escolha por observar, sentir e guardar dentro da gente. O que lembro, tenho.
Na casa de Tico, outro guia d’O Caminho, a mobília da sala se resumia a dua cadeiras de madeira. Sobre uma, brilhava uma pedra grande, translúcida, recolhida num rio ali perto e, equipada de uma lâmpada pequena, transformada em luminária que os donos exibiam orgulhosos. Sobre o outro móvel, ao lado da porta da entrada, havia um isopor cheio de geladinhos (ou jujus, sacolés, dindins) de buriti, feitos pela companheira de Tico e vendidos a um real cada. Tico é senhor de grandes riquezas, incluindo a agrofloresta que desenvolve no quintal e o mirante do alto do morro atrás da casa, de onde é possível derramar o olhar sobre aquele canto de sertão. De lá do alto, vemos o rio Catarina fazendo seu serpenteado por entre os buritizais, beirando casa e serra.
Da luminária, meus olhos foram atraídos para o pedaço de espelho grudado na parede da sala. O encanto diante do meu próprio olhar lembrou-me que há seis dias eu não via meu rosto. Um paradoxo bastante óbvio: há dias não me olhava e, no entanto, nunca havia estado tão perto de mim. Passei as pontas dos dedos sobre as sobrancelhas, virei de lado para observar os cabelos desgrenhados e corri para fora, atraída pelo som do pandeiro.
Os caminhantes, sentados, formavam meia lua. À frente, chacoalhando um pandeiro, o guia Paulo narrava a saga dos africanos sequestrados da sua terra e trazidos ao Brasil. A história musicada terminou em roda de capoeira, que só teve hora para acabar porque naquele dia trilhávamos o último trecho da jornada.
Era uma sexta-feira ensolarada, de céu azul sem nuvens e refrescância a cada quilômetro. Cruzamos 12 veredas, com água batendo nas canelas e vontade de prolongar os minutos, a ponto de esquecer que dali a algumas horas chegaríamos à reta final: a trilha morro acima, pelo Vão dos Buracos, até a cidade de Chapada Gaúcha.
Para mim, ela aconteceu num só fôlego. Foram cerca de 90 minutos de subida começando com o pôr-do-sol. No último passo, as pernas tremiam de cansaço. Não há foto, era tudo breu. Ergui com as duas mãos o cajado sobre a cabeça e pisei firme no alto da chapada. Quando o pé bateu no chão, o silêncio se estralou em palmas dos que chegaram antes e esperavam por quem vinha. Eu era uma silhueta na noite escura. Sobre nossas cabeças, estrelas desenhavam clarão no céu. Sorri em alívio, também porque no escuro ninguém via minhas lágrimas, por mais que tivesse chorado às claras muitas vezes naqueles dias. Coração da gente — o escuro, escuros. Assentei-me, mais uma vez, num canto debaixo da noite. Cada chegada despertava sinfonia de aplausos. No alto da Chapada Gaúcha, entre o barulhinho dos bichos do mato, sussurros, risadas e poemas dos, agora, amigos, eu entendi.
Corpo é feito para o movimento. E gente é feita para tirar esse corpo para dançar. Um desafio que implica coragem, mas garante horizontes vastos. Amplidão. Gente, quando está vivendo aquilo a que se dispôs, faz coisas lindas; como ajudar o outro, prestar atenção em canto de passarinho, dividir comida, dores, segredos, cantar em dupla, em trio ou sozinho para aliviar o caminho do companheiro. Todos nós voltamos a ser criança quando podemos ser. Há um menino, há um moleque, orando sempre no meu coração. Toda vez que o adulto balança, ele vem pra me dar a mão, canta Milton Nascimento. Vai haver sempre um lugar no mundo que nos leva de volta para aquilo que a gente é.
Eu deveria saber desde o começo. Naqueles dias, Miguilim havia me emprestado os óculos para que eu pudesse encompridar a vista.
Agora, eu enxergava mais longe.
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Este texto foi escrito em 2017.
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